A explosão de afastamentos por problemas Psicossociais
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Ricardo Friedemann |
Entra em vigor no dia 26 de maio de 2025 a nova atualização da Norma Regulamentadora 01,
do Ministério do Trabalho, que insere formalmente os riscos psicossociais no rol de riscos
ocupacionais. Até então, tais riscos apareciam de forma secundária na NR 17 (Ergonomia),
mas agora ganham força e protagonismo, passando a integrar o grupo principal de riscos já
estabelecidos há décadas: físicos, químicos, biológicos e ergonômicos.
A partir dessa data, todas as empresas estarão obrigadas a implementar o gerenciamento
dos riscos psicossociais e da saúde mental dos trabalhadores, como parte de sua
responsabilidade legal.
Essa mudança não representa uma mera formalidade. Vejamos: em um período de dez anos
(2014–2024), houve um aumento de 400% nos afastamentos por causas psicossociais, com
destaque para o ano de 2024, quando o Brasil atingiu a marca de 472 mil afastamentos
relacionados a esses fatores — um crescimento de mais de 68% em relação a 2023.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa hoje o 1º lugar no ranking
mundial de afastamentos por ansiedade, sendo essa a principal causa de afastamento do
trabalho atualmente. Esse cenário reflete uma onda silenciosa, prevista por especialistas logo
após a pandemia de Covid-19, marcada por luto, insegurança financeira e profissional, e
isolamento social — fatores que contribuíram significativamente para o agravamento da saúde
mental da população. A inflação também figura como elemento agravante, reduzindo
progressivamente o poder de compra dos trabalhadores e aumentando o estresse cotidiano.
Esses dados não evidenciam apenas uma crise de saúde mental, mas também trazem à tona
consequências econômicas e sociais expressivas. Para as empresas, os impactos são
alarmantes: aumento de custos operacionais com afastamentos, elevação da rotatividade
(turnover), queda no desempenho organizacional, passivos trabalhistas e danos à imagem
institucional. Ignorar os riscos psicossociais deixou de ser um erro de gestão para se tornar
um risco real e agora, legal.
O gerenciamento desses riscos representa um grande desafio, que exigirá a atuação integrada
de diversos setores: profissionais de Saúde e Segurança do Trabalho, gestores de Recursos
Humanos, o meio jurídico e os empresários. A saúde mental saiu das entrelinhas e entrou no
caput da legislação trabalhista.
As organizações que se adaptarem com inteligência e agilidade não apenas evitarão
penalidades, mas também colherão os frutos de ambientes mais saudáveis, produtivos e
sustentáveis.
A nova NR 01 não é apenas uma atualização técnica: é um alerta contundente sobre o preço
de ignorar o invisível.
Serviço:
Ricardo Friedemann – Fisioterapeuta do Trabalho, Ergonomista, Consultor em Saúde e
Segurança do Trabalho e Especialista em Comportamento e Neurociência.
Linkdin: Ricardo.Friedemann
Contato: (41) 99244-5205
Foto: Aline Marques.
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